sexta-feira, 18 de março de 2016

Cárcere Privado



“No final da vida você gemerá, com sua carne e seu corpo desgastados” Provérbios 5:11.

         Se já é difícil passar pelo desgaste do corpo no fim da vida, imagine no início dela. Quem tem dor crônica como eu, por qualquer que seja a patologia, sabe bem do que estou falando. Minhas dores começaram aos dois anos. Na verdade, não sei o que é uma vida sem dor. Embora tenha meus bons momentos, a dor é minha companheira incansável. Às vezes me sinto como naqueles filmes onde a protagonista em coma se vê fora do corpo assistindo de camarote. É duro contemplar o desgaste, a impotência, as limitações, o cansaço.
Hoje levantei, como diz meu pai, com a força da mente. As pernas vacilantes e doloridas (aviso: esse adjetivo sofreu eufemismo). A sensação é que você vai cair a qualquer minuto, como uma fruta madura.  Tinha que fazer exames.
Me surpreendo ainda, mesmo depois de 30 anos, com a falta de sincronia entre meu corpo e minha mente. Acordo com várias idéias, pensamentos a mil, vontade de viver, de ganhar o mundo, mas aí, eventualmente, sou lançada na longa jornada de levantar e chegar até o banheiro. Parece que sou duas pessoas. Me sinto em um cárcere privado. Meu corpo me aprisiona, me atrasa, me empurra pra trás.
Tem algo que aprendi durante todos esses anos. Cada pessoa no mundo vive em seu próprio cárcere. Ele pode ser o corpo, a mente, as emoções, as relações, mas cada um de nós tem sua cota. Uma realidade não é melhor ou pior que a outra, é apenas sua, é privado.
Hoje na volta para casa estava tão cansada que não conseguia nem conversar (esse é meu esporte favorito). Algumas lágrimas escorriam pelo meu rosto na tentativa de dizer o indizível. Aí, percebo um carro a minha frente com duas pessoas que acenavam e buzinavam pra todo mundo que passava na rua. E os passantes acenavam de volta e abriam um sorriso maroto como quem pensavam: quem são essas doidas? Diante disso, enxuguei as lágrimas e dei uma boa gargalhada. Era meu momento de liberdade. Nada mudou, continuo presa, mas naquela hora, senti que podia voar.
Que em meio ao seu cárcere, você se sinta livre. Que a dor suma, mesmo que por segundos, nem que pra isso você tenha que esbarrar com as loucas dos acenos.


10 comentários:

  1. Aninha, eu chamaria de anjos do aceno. Deus sempre arranja uma forma p transformar a nossa tristeza em alegria. As ferramentas q Ele usa são variadas. Ele tem te sustentado, mulher de Deus, e SEMPRE colocará em seu caminho Anjos especialistas em sorrisos. Você é a menina dos olhos de Deus.

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    1. Aninha, amada, ler esse texto me faz ir ao passado e me lembrar de vc com dores, mas sempre c o sorriso no rosto, sua fé genuína me anima. Sinto saudade do seu olhar radiante, dessa mente brilhante e inquieta q n se limita as restrições q essa enfermidade de trás. Te amo demais, vc marcou a minha vida.

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    2. Eu agradeço ao Senhor pelos bons momentos que vive com essa família que amo!

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  2. Realmente, só quem foi 'aprisionado' num corpo desde criança (aos 6 anos e meio uma junta médica me diagnosticou com artrite reumatóide juvenil), entende o que é apenas sonhar ou desejar realizar pequenos prazeres do cotidiano. Hoje, aos 45 anos, os sonhos são substituídos pelas 'pequenas' realizações como achar o sapato mais confortável ou tomar um ônibus que tenha um assento livre. #DeusÉBom pois, apesar das lágrimas, também tem colocado anjos que acenam em minha vida [LIMITADA].

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    1. Verdade verdadeira querida! Que o consolaDOR continue te dando graça e força!! Também sofro com sapatos!!! kkkkk

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  3. Ana, minha querida!
    Como é bom ter consolo em suas palavras! Também sofro com dores crônicas por motivos diversos e sei o qto as limitações nos aprisionam.
    Obrigada pelas palavras!
    Como disse a Mafra esses dias, tenho uma conexão espiritual com sua família muito forte e não esqueço de orar por vocês, apesar da distância e apesar de não nos falarmos com frequência mesmo quando morávamos na mesma cidade.
    Que Deus continue te sustentando e te dando sabedoria para expressar o amor Dele através de atitudes, força, fé e palavras!
    Amo vocês e continuo na brecha. Bjo! Nana.

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  4. Amém! Que o Senhor te fortaleça no enfrentamento de suas dores! Obrigada por estar em oração por nós e pelo amor dedicado! Bjos

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