quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Como encarar a dor...


Descobri algo. A dor pode ser algo pontual. Esse tipo de dor vai e vem deixando lembranças, mas não marcas. Aquela gripe que te derrubou por 7 dias, aquela palavra dita fora de hora, aquele susto que você levou no trânsito, essas são dores ocasionais. Há também outro tipo de dor, que costumamos chamar de sofrimento. Aquela que marca o corpo, a alma e, ás vezes, os dois. Aquela que o tempo ameniza, mas não cura, aquela que te exige convivência diária, aquela que faz brotar raiz de amargura, aquela que deixa cicatrizes feias e profundas.
Descobri que podemos encarar a dor de muitas formas. Podemos fazer beicinho e ficar lamentando como o irmão mais velho do filho pródigo. Quantas vezes me vi como ele. Sempre achei que jamais seria esse personagem, mas resmunguei, fiquei de mal, chateada e despeitada.
Diante da dor, também podemos vestir nossa roupa de guerra e sermos obstinados. Cidadãos destinados a vencer, afinal, somos apenas sobreviventes nesse mundo tenebroso. Preciso sobreviver e nada mais.
Podemos em meio a dor, fingir que está tudo bem e nos munirmos de todos os mecanismos de defesa nos comprometendo a nunca mostrar a fragilidade, mas também nunca deixar as feridas curarem. Sempre mantendo os fantasmas bem perto e a mente anestesiada. Buscando não pensar, não planejar, nem esperar por nada.
Inundado na dor, pode-se acreditar que nada mais será como antes. Que nada será feito novo. Por vezes, crer que morrer teria sido uma melhor opção, que as coisas que faltam tem mais valor do que as que temos. Que a experiência de dor não redundará em nada, não terá aproveitamento nenhum, não deixará nenhum rastro de esperança, mas sim tristeza profunda.
Batizada na dor, me posicionei diante dela de todas essas formas. Tive os piores pensamentos. Aí descobri que quando sou o filho mais velho Ele é meu liberta-DOR. Ele sussurra carinhosamente no meu ouvido: “Tudo que tenho é teu. Você não precisa de mais nada porque tem a mim”. Quando me canso de ser uma sobrevivente, Ele se mostra meu restaura-DOR e me chama para ser seu remanescente eleito. Aquela que luta para obedecê-lo e participar de seus sofrimentos.
 Quando me vejo fingindo e tentando me anestesiar, Ele se torna meu consola-DOR, me afirmando que Ele é minha âncora firme que segura minha alma nos momentos de tempestades. Quando não posso mais crer no amanhã porque as perdas são muitas e a dor toma conta de todo o meu ser, Ele me lembra que é meu salva-DOR e que só nEle tenho esperança mesmo que me desespere da própria vida. Ele pode ressuscitar os mortos e dar a certeza que sonhos despedaçados não são maiores do que Sua suficiência.

    Que diante da dor eu possa agir como meu Senhor Jesus que aprendeu a obedecer, a se sacrificar e a louvar ao Pai em toda situação, tendo um coração grato. Que Ele nos ajude a sermos como Ele é, até chegar o dia em que não teremos mais lágrimas e o veremos face a face. 

terça-feira, 23 de setembro de 2014

30 minutos de nada!




“E, havendo aberto o sétimo selo, fez-se silêncio no céu quase por meia hora. (...) E os sete anjos, que tinham as sete trombetas, prepararam-se para tocá-las.” Ap.8:1,6.

            Conversando com uma amiga me lembrei desse trecho bíblico há muito tempo esquecido. Ela me contava sobre suas frustrações, decepções, desesperança e cansaço. Fiquei me lembrando das tantas vezes que já me senti assim. Para mim, o termo “fase de transição” é um bom nome para esse processo. Essas fases são aqueles momentos que separam um grande evento de outro. É quando estamos transitando de uma realidade para outra. É aquela espera pelo emprego desejado ou até por qualquer um mesmo, após as comemorações da festa de formatura. É aquela espera pelo homem da sua vida, após ter passado por uma série de decepções amorosas. É esperar ver a Igreja indo no caminho certo, após anos e anos de dedicação e trabalho pesado. É esperar ver sua família reconstruída após anos de investimento nela, de oração, tentativas de ordenação e muitas lágrimas.  
Nesse meio tempo, ficamos nos sentindo em um limbo, num vale onde tudo parece vazio, como se o nada, fosse tudo o que temos. Me lembro das muitas vezes em que estive doente. A famosa fase de reabilitação era o pior momento. Nem estava no hospital, nem estava de volta as minhas atividades. Nem estava doente (na fase aguda), nem tão pouco saudável. Tinha que reaprender a andar e toda minha energia precisava ser dedicada a horas e horas de fisioterapia e outros tratamentos. Sentia como se minha vida ficasse paralisada junto com minhas pernas. Como se nada acontecesse pra mim.
Tudo que me restava era uma espera. Muitos minutos de agonia e angustia. Era como se as promessas não fossem se cumprir nunca, como se a caminhada pelo vale nunca fosse terminar. Acho que todo mundo que se sabe humano já passou por isso. Momentos de dor, de dúvida, de descrença, de confusão. Não sabemos pra onde ir simplesmente porque não sabemos onde estamos.
Foi em um desses momentos que li sobre a meia hora de silêncio no céu. Aquela era uma “fase de transição”. Os selos tinham sido abertos e o próximo passo seria o toque das trombetas. Embora cada trombeta represente dor e sofrimento, seu momento é sublime e de grande alegria. Cada toque aproxima o fim. Na verdade, um início. O cumprimento da promessa de que os servos do altíssimo  “Nunca mais terão fome, nunca mais terão sede; nem sol, nem calma alguma cairá sobre eles.Porque o Cordeiro que está no meio do trono os apascentará, e lhes servirá de guia para as fontes das águas da vida; e Deus limpará de seus olhos toda a lágrima” (Ap. 7: 16,17). A meia hora de silêncio preparava os anjos para o toque que converteria toda tristeza em alegria, todo pranto em festa, toda morte em vida, todo passado em futuro eterno.
Se tudo parece silencioso, se nada acontece, se tudo parece ruir, espere. Só demorará quase 30 minutos pra o toque da trombeta. 30 minutos para ver face a face o Rei dos Reis. Sei que é duro esperar 30 minutos quando se está com dor, mas vale a pena esperar sabendo que depois disso, você ouvira o doce som da voz do mestre. Meus 30 minutos são na verdade 21 anos, mas um dia para o Senhor é como mil anos e mil anos, como um dia. Espero. Nessa espera, já percorri diversas fases de transição, já ri e já chorei,mas ainda aguardo o toque das trombetas. Até lá, luto o bom combate, tento guardar a fé, percorro a carreira que me está proposta. No fim, é só isso que importa. Nada mais. Sigo esperando com a certeza de que o céu não está ignorando minhas dores, ele está apenas preparando seu exército para irromper minha vida com uma doce canção celestial. Acho que esse versículo é um santo remédio para a ansiedade e a dor. Sem contra-indicação e com bons efeitos colaterais.
Que a sua dor não te deixe desistir de acreditar nessas verdades. Que você aguente firme os seus quase 30 minutos. As trombetas vão soar pra você! Pode esperar!