sábado, 12 de maio de 2018

Confissões de uma mãe


Oi meu filho...
Que lindo presente você me deu hoje. Que lindas poesias você apresentou na igreja, para mim e eu só chorei, como sempre. Minhas lagrimas, entre risos manchavam os meus óculos e a maquiagem.
Porque será meu filho que no dia das mães, justo no dia das mães, quando ganho tantos presentes, quando sou tão homenageada, este é o dia que eu mais choro?
         Será pela consciência de que eu não sou exatamente a mãe meiga que você canta nas suas canções? A lembrança das vezes que eu berrei com você por causa de um copo de leite derramado me constrange e envergonha horrivelmente.
Quando você quase me endeusa dizendo que eu sou o seu amor perfeito, um pedacinho de Deus em você, meu coração se consome em agonia, pois me lembro das vezes em que o meu amor falhou, em que a disciplina foi aplicada com ira e egoísmo, em que os beijos foram trocados por insultos e rixas.
         Ah, meu filho...Quão difícil é, para mim, ouvir você dizer que eu lhe dedico todo o meu tempo, toda a minha vida sem querer nada em troca e eu choro, comovida pela sua inocência, pois você nem imagina quantas vezes meu coração se encheu de tristeza e ressentimento por achar que eu perdera a minha identidade, uma carreira de sucesso, por ter filhos e cuidar deles. O mercado de consumo, através das propagandas de tv seduziram-me muitas vezes e eu relutei entre pagar a sua escola e adquirir algumas roupas novas para mim.
         Ouvindo você chamar-me de rainha do lar eu me lembro quantas vezes eu tive vontade de largar tudo e buscar minha realização pessoal, profissional e financeira. E quando você ainda era um bebê e mamava a noite inteira, eu me enternecia, mas só até bater o sono e o cansaço e, então, me revoltava por não poder dormir. Quanto me custaram aquelas noites de sono perdido, muito mais por causa do remorso daquelas lembranças.
Quando você cresceu e começou a andar e a quebrar coisas, a fazer birra, roer unhas, a teimar e chorar de noite, a ter medo do escuro e ir para a minha cama e eu não tinha tempo, energia e nem maturidade para entender suas fases, seus medos, suas incertezas, e quantas vezes eu ralhava com você, na minha impaciência.
Quando você me diz que a minha comida é a melhor do mundo o meu coração pesa pensando que, muitas vazes eu a fiz chateada, temperada com ansiedade e amargura.
Será que eu choro, meu filho, pensando na mãe maravilhosa que eu poderia ser e não fui? Pensando na mulher virtuosa e incansável descrita no livro de Provérbios, que eu não consigo alcançar?  Choro pelas minhas fraquezas, meu cansaço, meus desejos não realizados, minhas frustrações, pelo medo de continuar falhando e pela certeza de que eu já falhei? Pelo desespero de ter causado males irremediáveis em sua personalidade?
Ah, meu filho, nas suas musiquinhas você só diz coisas lindas de mim. Você não fala dos meus descontroles, dos meus gritos, das minhas rixas, dos meus sermões, da minha indiferença, das minhas precipitações. Você não fala da minha soberba, pois nem desconfia que, muitas vezes eu quis me realizar em você, por isso exigi tanto que você fosse o melhor.
Você não manifesta o meu lado ruim. Fielmente continua me amando e sentindo a minha falta. A necessidade que temos um do outro é indescritível e também angustiante. Se você adoece, eu estremeço, e o meu medo de perder você me reduz a nada. Se você fracassa, o fracasso é meu, e se você chora, essas lagrimas são minhas. Se você viaja, leva em sua bagagem o meu coração. Se você é ultrajado, eu é que fico infeliz.
Você representa para mim toda a alegria. Ser sua mãe e ter essa afinidade tão profunda com você me enche de uma felicidade incalculável. Saber que a relação de mãe e filho é a relação mais poderosa do universo me enche de responsabilidades e cuidados. Sou tão feliz por ser sua e você ser meu, que quando lhe aconchego em meus braços sinto que nada nem ninguém poderia dissolver esse elo.

Talvez seja por isso que eu choro, meu filho. Choro porque, apesar de estar tão longe da perfeição a que você me atribui, mesmo assim, Deus me deu a honra de ter você. De exercer o papel de mãe em sua vida. Eu choro porque mesmo não tendo condições de ser o amor perfeito, conheço aquele que sabe amar perfeita e incondicionalmente e pode minorar os nossos sofrimentos, perdoar e apagar as marcas dos nossos pecados. Eu choro meu filho, pedindo a Deus, comovida, que ele faça de mim a mãe que você precisa, me ajudando a cumprir essa difícil tarefa de lhe criar e fazer de você um ser humano equilibrado e digno, cheio de fé e amor ao próximo. Eu choro, quase conformada, porque sei que ser mãe é difícil e eu passarei o resto da vida aprendendo.  Eu sei que só há no mundo uma coisa mais difícil do que ser mãe: é não ser mãe! Muito grata a Deus por ser mãe e ter todos os dias minhas esperanças renovadas, pela misericórdia de Deus!

Texto escrito pela minha mãe querida. Maria do Socorro Torres!