Descobri
algo. A dor pode ser algo pontual. Esse tipo de dor vai e vem deixando
lembranças, mas não marcas. Aquela gripe que te derrubou por 7 dias, aquela
palavra dita fora de hora, aquele susto que você levou no trânsito, essas são
dores ocasionais. Há também outro tipo de dor, que costumamos chamar de
sofrimento. Aquela que marca o corpo, a alma e, ás vezes, os dois. Aquela que o
tempo ameniza, mas não cura, aquela que te exige convivência diária, aquela que
faz brotar raiz de amargura, aquela que deixa cicatrizes feias e profundas.
Descobri
que podemos encarar a dor de muitas formas. Podemos fazer beicinho e ficar
lamentando como o irmão mais velho do filho pródigo. Quantas vezes me vi como
ele. Sempre achei que jamais seria esse personagem, mas resmunguei, fiquei de
mal, chateada e despeitada.
Diante
da dor, também podemos vestir nossa roupa de guerra e sermos obstinados. Cidadãos destinados a vencer, afinal, somos apenas sobreviventes nesse mundo
tenebroso. Preciso sobreviver e nada mais.
Podemos
em meio a dor, fingir que está tudo bem e nos munirmos de todos os mecanismos
de defesa nos comprometendo a nunca mostrar a fragilidade, mas também nunca
deixar as feridas curarem. Sempre mantendo os fantasmas bem perto e a mente
anestesiada. Buscando não pensar, não planejar, nem esperar por nada.
Inundado
na dor, pode-se acreditar que nada mais será como antes. Que nada será feito
novo. Por vezes, crer que morrer teria sido uma melhor opção, que as coisas que
faltam tem mais valor do que as que temos. Que a experiência de dor não
redundará em nada, não terá aproveitamento nenhum,
não deixará nenhum rastro de esperança, mas sim tristeza profunda.
Batizada
na dor, me posicionei diante dela de todas essas formas. Tive os piores
pensamentos. Aí descobri que quando sou o filho mais velho Ele é meu liberta-DOR.
Ele sussurra carinhosamente no meu ouvido: “Tudo que tenho é teu. Você não
precisa de mais nada porque tem a mim”. Quando me canso de ser uma sobrevivente,
Ele se mostra meu restaura-DOR e me chama para ser seu remanescente
eleito. Aquela que luta para obedecê-lo e participar de seus sofrimentos.
Quando me vejo fingindo e tentando me
anestesiar, Ele se torna meu consola-DOR, me afirmando que Ele é minha âncora
firme que segura minha alma nos momentos de tempestades. Quando não posso mais
crer no amanhã porque as perdas são muitas e a dor toma conta de todo o meu
ser, Ele me lembra que é meu salva-DOR e que só nEle tenho esperança mesmo que
me desespere da própria vida. Ele pode ressuscitar os mortos e dar a certeza
que sonhos despedaçados não são maiores do que Sua suficiência.