“Aconteceu que o povo começou a queixar-se das
suas dificuldades aos ouvidos do Senhor. (...) Nós nos lembramos dos peixes que comíamos de
graça no Egito, e também dos pepinos, das melancias, dos alhos porós e das
cebolas... mas agora perdemos o apetite;
nunca vemos nada, a não ser este maná!” Números 11:1a,5-6.
Quando
era adolescente e lia sobre o povo de Israel e sua peregrinação no deserto,
olhava para eles com ar de superioridade. Pensava com meus botões: “Que povinho
mais sem noção. Deus acabou de abrir o mar vermelho e eles já estão sem
acreditar. Deus acabou de prover água e eles já estão reclamando. Povinho
ingrato e teimoso”.
Aí
cresci e me vi lamentando pelas cebolas do Egito, me vi reclamando do maná. Vi-me
orando para ter um trabalho e depois achando ruim o tanto de atividades que
estava tendo. Pedi por pequenos milagres, que desprezei ao receber. Aquele
povinho me representava. Eu, assim como eles, também tinha meus momentos de
murmuração, de birra e de incredulidade.
Esses
dias tenho meditado sobre o poder da gratidão. Terminando de ler o livro “Surpreendida
pela glória” escrito por Sharon Jaynes, que me foi presenteado amigavelmente
por uma irmã querida, aprendi que a gratidão é o melhor remédio contra a
ansiedade, é “a linguagem de amor de Deus que nos capacita a nos comunicar
intimamente com ele”.
Se
pensarmos bem, Adão e Eva foram tentados
por Satanás, que achou uma brecha infalível: a ingratidão. Eles cobiçaram a única
coisa que Deus os proibiu de comer; mostraram então, que não eram gratos pelo
que tinham, queriam mais. O imenso jardim que tinham não era o bastante, porque
é só a gratidão que transforma o que temos em suficiente.
Outra
curiosidade sobre a ingratidão é que ela é contagiosa. Quando ficamos perto de
alguém murmurador, sentimos que nossas energias são sugadas e que nossa vida
não é boa quanto achávamos. O salmista Davi sabia bem disso, por isso afirma: “Bendize
ó minha alma ao Senhor e tudo o que há em mim bendiga seu santo Nome”. Ele
coloca os verbos no imperativo. Dá uma ordem à sua alma. Talvez porque ele
sabia que tudo o que ela queria era reclamar e chorar a mágoa. Davi sabia que a
gratidão nos faz ser satisfeitos por Deus e por nada além dEle.
Parece
ser fácil ser grato, mas não é. Nem sempre conseguimos brincar do meigo “Jogo
do Contente” (como no livro “Pollyana”). Quando estamos mergulhados na dor de
andarmos no deserto é difícil desfrutar do maná. Quando há muita dor no nosso
passado, é difícil olhar com esperança para o futuro e a gratidão hesita antes
de se instalar pelo fantasma do medo de que tudo, daqui a pouco, se complique e
volte a ser como antes. Depois de 40 dias de cama é complicado celebrar um dia
de pé com a insegurança do amanhã.
As
vezes é difícil celebrar pequenas vitórias quando a dor está ali lembrando que
falta muito a ser vencido para comemorar. A Sharon Jaynes nos recomenda a fazer
um “diário de gratidão” ou um diário dos vislumbres de glória (acho que essa
vai ser nossa próxima reflexão). Enfim, tenho feito esse exercício. Escrito
cada pequena vitória do dia, cada motivo que tenho para celebrar: “Hoje fiz meu
percurso de caminhada em 30 minutos no lugar de 35, senti menos dor, comi uma
sobremesa gostosa, todos amaram minha comida, aprendi uma música nova no piano,
um aluno elogiou minha aula” e por aí vai.
Fiz
uma parede da gratidão em minha casa com fotos de momentos e pessoas
especiais. Portanto, quando me vejo pensando nas cebolas no Egito, lembro de
onde Ele me tirou e pra onde vai me levar.
Seja
grato! A gratidão é cura para o corpo e para a alma. Nos faz ver a vida com
outros olhos e nos permite chegar em Canaã.