Todos
nós estamos fadados a sofrer a nossa quota de dor, seja física ou emocional. Podemos
fingir que não sofremos e fazer da vida um desfile na Sapucaí, mas a dor estará
lá, à espreita, e vai aparecer na hora em que não esperamos. Como nos portar
diante da dor? Como superar as adversidades da vida?
Antes
de pensarmos em transcender a dor, precisamos olhar sua origem, suas causas. C.
S Lewis nos diz que o ser humano é responsável por quatro quintos do seu
próprio sofrimento. A maioria das nossas doenças e problemas são motivados
pelas nossas escolhas e pelo ambiente doentio que criamos para nós mesmos. Na
nossa luta pelo controle, brigamos sutilmente ou ferozmente pelo poder e
machucamos a nós mesmos ou aos outros. Charles Swindoll em seu livro em busca
do caráter lembra-nos das quatro coisas que costuma nos mover: fama, poder,
dinheiro e prazer.
Onde
encontraríamos respostas e consolo, senão na Palavra de Deus? “E não somente
isto, mas nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação
produz perseverança, e a perseverança experiência e a experiência, esperança” (Rm.
5.3-4). “Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno
peso de glória, acima de toda comparação, não atentando nós para as coisas que
se veem, mas para as que não se veem, porque as que se veem são temporais, as
que não se veem são eternas” (II Co. 4.17).
Jesus
nos dá um manual de sobrevivência. E nós, como devemos lidar com a dor?
Primeiro com resiliência: “Aquele que perseverar até o fim será salvo” – diz a Palavra. Não vou entrar no
mérito teológico desse versículo; irei usá-lo como aplicação apenas para o
nosso pensamento sobre a dor. O texto não diz: ‘se você for bem-sucedido, se
fizer tudo muito bem’ ... diz apenas: “se perseverar até o fim”. No nosso
pensamento sobre dor é isso o que acontece: a necessidade de permanecer firme,
de percorrer a distância necessária para chegar lá aonde Deus quer que você
chegue! Uma palavra legal para isso é “garra” (unhas afiadas para ficar
agarrado a beira do rochedo e não cair). Tá doendo, tô caindo, mas tenho garras
afiadas e vou me segurar! É certo que a dor nos deixa mais fortes internamente.
Segundo,
devemos lidar com a dor, cheios de fé. Viver pela fé é entender a verdade da
nossa fraqueza. A dor é uma força poderosa que nos empurra para uma determinada
direção. Ela pode nos guiar para a maturidade e sabedoria, ou para o desespero
e alienação. Não é o fato de sofrer que nos torna melhores ou piores, mas o que
fazemos com o sofrimento. C. S Lewis nos diz que: “o bem perfeito de uma
criatura consiste em se entregar ao seu criador”. Viver pela fé é entender que
algumas situações não têm cura. Temos que aceitá-las como são confiando em
Deus. A coisa mais importante que Deus nos concedeu para que o sofrimento nos
faça crescer, ao invés de nos derrotar, é a sua presença. Quando estiver
sofrendo volte-se para ele e peça para Ele ser sua força. Ele não quer que
neguemos nossa dor; quer nos dar forças para enfrentá-la e suportá-la. Sofrer
não é uma opção, mas a forma de sofrer é uma escolha nossa.
Viver
pela fé é entender que muitas vezes Deus quer curar o nosso caráter e para isso
ele as vezes precisa enfermar o nosso corpo. Há ocasiões em que, para que meu espírito
aprenda a humildade, a paciência e o quebrantamento eu tenho que sofrer dor.
Nesse caso, Deus enferma o corpo para curar a alma. “O espírito humano jamais
renunciará a sua voluntariedade enquanto tudo estiver bem com ele. O sofrimento
é o megafone de Deus para despertar um mundo surdo” (C. S. Lewis).
Viver
pela fé é entender também que o Pai quer nos usar para ajudar outros. “Bendito
seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o
Deus de toda a consolação; Que nos consola em toda a nossa tribulação, para que
também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a
consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus. Porque, como as
aflições de Cristo são abundantes em nós, assim também é abundante a nossa
consolação por meio de Cristo” (II Co. 1.3-5).
Lembro-me
agora da história de Jó. Alguém chamou a sua dor de ‘dor terapêutica’. “Deus
queria dar a ser servo Jó a chance de manifestar o seu compromisso com Ele,
queria desenvolver seu caráter mais ainda, queria abrir-lhe a visão para que
ela se tornasse uma cosmovisão, queria revelar-lhe sua própria natureza como
Deus”. Larry Crabb nos diz ainda que, geralmente, “a nossa maior luta é nos
livrar da dor, ao invés de utilizar a dor para lutar mais apaixonadamente com
as coisas do caráter e dos propósitos divinos”. Deus nos convida a encontrá-lo,
sabendo que nesse processo encontramos a nós mesmos. Às vezes Deus faz isso
pela via da dor, do sofrimento, da enfermidade.
Terceiro
ponto, Deus quer que lidemos com a dor, cheios de esperança. Devemos buscar ao
Senhor entendendo que Ele é galardoador dos que o buscam. “Porque tudo o que
dantes foi escrito, para nosso ensino foi escrito, para que pela paciência e
consolação das Escrituras tenhamos esperança” (Rm 15:4).
Com
fé, resiliência e esperança podemos enfrentar cada adversidade que se impõe a
nós e seguir adiante e não raro é possível olhar para o que ficou para trás e
discernir o propósito de Deus no nosso sofrimento. O próprio Jó foi aconselhado
a ter esperança porque um dia ele “esqueceria de todos os seus sofrimentos e só
se lembraria deles como águas passadas” (Jó 11.16). A promessa vai além: “A tua
vida será mais clara do que o meio dia e ainda que haja trevas, será como a
manhã.” (Jó. 11.17).