“Porque o meu povo fez duas maldades: a mim me deixaram,
o manancial de águas vivas, e cavaram para si cisternas, cisternas rotas, que
não retêm as águas” Jeremias 2:13.
Esse
texto estava na ponta da agulha há muitos dias, mas não conseguia terminar. Me
vi paralisada pelo cansaço do ano velho e pela expectativa do ano que se
iniciou cheio de surpresas, fadiga e trabalho.
Nessa
época do ano é quase impossível não fazermos uma retrospectiva. Sendo sujeitos
faltantes, costumamos pensar mais nas dores, do que nas alegrias; nos apertos,
do que nos livramentos; nos desprazeres, do que nos prazeres; nos
desentendimentos, do que nos atos de amor. Costumamos ver o ponto preto e
ignoramos a imensidão da folha branca.
Esperamos
que o ano seguinte traga melhores momentos, mais contentamento. Às vezes nos
perdemos no obscuro das impossibilidades e buscamos compensações emocionais que
nos adoecem. Comemos demais, nos metemos em mais atividades do que podemos dar
conta, esperamos muito dos nossos pares. Despejamos nossas carências e
aguardamos que algo nos supra, encobrindo nossa dor. Cavamos para nós
“cisternas rotas que não retém água”. Esperamos que o marido, os filhos, o
trabalho, os prazeres ou a confiança em nós mesmos preencham o vazio do nosso
coração. Quando estamos sofrendo, a situação piora. Pensamos que algo ou alguém
tem obrigação de atenuar nosso sofrimento. Julgamos merecer alívio.
Nosso
Deus nos promete ser para nós e em nós um manancial de água viva. Ele é fonte
de conforto, é um Deus compensaDOR e por isso,
apesar das dores que nos sobrevêm
Ele nos compensa com outras alegrias: A mãe que luta com seu filho enfermo
descobre nos irmãos da igreja amor e suporte; A estéril produz vida ao liberar
amor; o que luta pela sobrevivência possui filhos honrados; a esposa que
batalha pelo seu casamento acha uma amiga confidente, uma parceira de oração.
“Ao
aceitar sem repulsa as dores da vida, poderemos encontrar o inesperado. Ao
convidar Deus para participar de nossas dificuldades fundamentaremos nossa vida
– até mesmo seus momentos tristes – em alegria e esperança” (Henri Nouwen em
‘Transforma meu pranto em dança’- Ps: você precisa ler esse livro. É
maravilhoso)
Confesso
que ainda me sinto paralisada e nem um pouco pronta pra iniciar o ano, mas hoje
acordei e fui louvar. Minha vontade era de ficar na cama e empurrar tudo com a
barriga, mas fui oferecer “sacrifícios de louvor”. Fui adorar mesmo com a
sensação de que não havia nada em mim para dar, mesmo sem vontade, mesmo sem
alegria. Aí o louvor fez seu trabalho, ministrou ao meu coração, me fez tirar
os olhos de mim e colocá-los no autor e consumador da minha fé. Minha boca se
encheu de alegria e fui lamentar. Sim, você não leu errado. Fui LAMENTAR. “Lamentar
significa enfrentar o que nos fere na presença daquele que pode nos curar” (Nouwen).
Não fui resmungar, não fui desabafar. Fui lamentar. Não fui fazer uso da
cisterna. Fui ao manancial. Lá sempre tem água, tem vida, tem poder pra curar e
libertar.
Quando
me rendo e desisto de me compensar, de buscar satisfação nas coisas e pessoas,
me deparo com um Deus compensaDOR. Ele compensou José após seus anos na cadeia,
compensou Davi após anos de batalhas, compensou Elias com parceiros de luta
após seu período de depressão, compensou Ester, Rute, Noemi e está sempre
presente. Deixe que Ele seja teu Deus, deixe que ele compense a sua dor do
jeito dele, deixe que Ele jorre rios de águas vivas em seu interior. Nos
momentos de angústia, lembre-se: Você tem um Deus compensa(DOR). Olhe em volta
e veja o que Ele está fazendo, veja o manancial no deserto e rios no ermo. Veja
o que você tem ganhado e não apenas o que tem perdido.
É um refrigério lembrar que durante a travessia no deserto temos uma fonte de águas vivas à nossa disposição.
ResponderExcluirA conclusão do texto foi no tempo certo Aninha, obrigada pela injeção de ânimo.