“E,
havendo aberto o sétimo selo, fez-se silêncio no céu quase por meia hora. (...)
E os sete anjos, que tinham as sete trombetas, prepararam-se para tocá-las.”
Ap.8:1,6.
Conversando
com uma amiga me lembrei desse trecho bíblico há muito tempo esquecido. Ela me
contava sobre suas frustrações, decepções, desesperança e cansaço. Fiquei me
lembrando das tantas vezes que já me senti assim. Para mim, o termo “fase de
transição” é um bom nome para esse processo. Essas fases são aqueles momentos
que separam um grande evento de outro. É quando estamos transitando de uma
realidade para outra. É aquela espera pelo emprego desejado ou até por qualquer
um mesmo, após as comemorações da festa de formatura. É aquela espera pelo
homem da sua vida, após ter passado por uma série de decepções amorosas. É
esperar ver a Igreja indo no caminho certo, após anos e anos de dedicação e
trabalho pesado. É esperar ver sua família reconstruída após anos de
investimento nela, de oração, tentativas de ordenação e muitas lágrimas.
Nesse meio tempo, ficamos nos sentindo em um limbo, num
vale onde tudo parece vazio, como se o nada, fosse tudo o que temos. Me lembro
das muitas vezes em que estive doente. A famosa fase de reabilitação era o pior
momento. Nem estava no hospital, nem estava de volta as minhas atividades. Nem
estava doente (na fase aguda), nem tão pouco saudável. Tinha que reaprender a
andar e toda minha energia precisava ser dedicada a horas e horas de fisioterapia
e outros tratamentos. Sentia como se minha vida ficasse paralisada junto com
minhas pernas. Como se nada acontecesse pra mim.
Tudo que me restava era uma espera. Muitos minutos de
agonia e angustia. Era como se as promessas não fossem se cumprir nunca, como
se a caminhada pelo vale nunca fosse terminar. Acho que todo mundo que se sabe
humano já passou por isso. Momentos de dor, de dúvida, de descrença, de
confusão. Não sabemos pra onde ir simplesmente porque não sabemos onde estamos.
Foi em um desses momentos que li sobre a meia hora de
silêncio no céu. Aquela era uma “fase de transição”. Os selos tinham sido
abertos e o próximo passo seria o toque das trombetas. Embora cada trombeta
represente dor e sofrimento, seu momento é sublime e de grande alegria. Cada
toque aproxima o fim. Na verdade, um início. O cumprimento da promessa de que
os servos do altíssimo “Nunca mais terão
fome, nunca mais terão sede; nem sol, nem calma alguma cairá sobre eles.Porque
o Cordeiro que está no meio do trono os apascentará, e lhes servirá de guia
para as fontes das águas da vida; e Deus limpará de seus olhos toda a lágrima”
(Ap. 7: 16,17). A meia hora de silêncio preparava os anjos para o toque que
converteria toda tristeza em alegria, todo pranto em festa, toda morte em vida,
todo passado em futuro eterno.
Se tudo parece silencioso, se nada acontece, se tudo
parece ruir, espere. Só demorará quase 30 minutos pra o toque da trombeta. 30
minutos para ver face a face o Rei dos Reis. Sei que é duro esperar 30 minutos
quando se está com dor, mas vale a pena esperar sabendo que depois disso, você
ouvira o doce som da voz do mestre. Meus 30 minutos são na verdade 21 anos, mas
um dia para o Senhor é como mil anos e mil anos, como um dia. Espero. Nessa
espera, já percorri diversas fases de transição, já ri e já chorei,mas ainda
aguardo o toque das trombetas. Até lá, luto o bom combate, tento guardar a fé,
percorro a carreira que me está proposta. No fim, é só isso que importa. Nada
mais. Sigo esperando com a certeza de que o céu não está ignorando minhas
dores, ele está apenas preparando seu exército para irromper minha vida com uma
doce canção celestial. Acho que esse versículo é um santo remédio para a
ansiedade e a dor. Sem contra-indicação e com bons efeitos colaterais.
Que a sua dor não te deixe desistir de acreditar nessas
verdades. Que você aguente firme os seus quase 30 minutos. As trombetas vão
soar pra você! Pode esperar!
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